Por Dr. Thiago Volpi – Médico Nutrólogo especialista em medicina de longevidade
O medo de envelhecer nunca esteve tão presente em nossa realidade. Filmes, documentários e até pesquisas científicas mostram como essa preocupação molda comportamentos, impulsiona fortunas e, muitas vezes, levanta questões éticas e sociais profundas. Dois títulos recentes trazem à tona esse debate: A Substância, indicado ao Oscar, e O Homem que Queria Viver Para Sempre, documentário da Netflix sobre Bryan Johnson, um bilionário que investe milhões para reverter sua idade biológica. Enquanto um satiriza a obsessão estética com um tom distópico, o outro nos confronta com a realidade de um homem que faz da longevidade um projeto de vida — mas a que custo?
O preço da juventude
No universo de A Substância, a promessa de uma aparência jovem e perfeita vem acompanhada de um preço devastador. A crítica é direta: até que ponto estamos dispostos a sacrificar nossa saúde, sanidade e identidade para atender a padrões inatingíveis? Estudos como os da Cadernos de Saúde Pública indicam que transtornos como a dismorfia corporal estão crescendo, impulsionados pela insatisfação constante e pelo acesso cada vez mais fácil a procedimentos estéticos.
Já no mundo real, Bryan Johnson nos apresenta uma abordagem extrema, mas totalmente baseada em ciência. Rotinas meticulosamente planejadas, biomarcadores monitorados 24 horas por dia, suplementação personalizada, terapias inovadoras. O documentário nos mostra resultados impressionantes, como a redução da idade biológica de seus órgãos, mas também escancara um dilema: essas estratégias são viáveis para a maioria da população?
Longevidade ou ilusão?
A medicina de alta performance está em constante evolução. Hoje, sabemos que otimizar a saúde vai muito além de prevenir doenças — trata-se de personalização, integração entre diferentes áreas do conhecimento e, principalmente, de acesso. Mas enquanto poucos podem bancar um exército de especialistas para rejuvenescer, a maior parte da população luta por cuidados básicos. O que significa, então, prolongar a vida de alguns, enquanto outros sequer têm acesso à saúde de qualidade?
Além disso, viver mais só faz sentido se houver qualidade de vida. A falta de um direcionamento claro e equilibrado pode transformar qualquer tentativa de longevidade em um desafio sem sentido. O mesmo vale para a busca pela juventude: não basta viver mais, é preciso viver bem.
O que realmente estamos buscando?
No fim, tanto A Substância quanto O Homem que Queria Viver Para Sempre deixam uma questão central: estamos realmente interessados em qualidade de vida ou apenas tentando escapar do inevitável? Envelhecer não é uma falha, nem um erro que precisa ser corrigido — é um processo natural, parte da nossa trajetória.
A ciência pode, e deve, buscar maneiras de melhorar nossa saúde e longevidade. Mas talvez o verdadeiro desafio esteja em mudar nossa relação com o tempo, e não apenas tentar vencê-lo.
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Damaris Pedro
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