*Arlindo Aburad
*Carlos Aburad
Enquanto o câncer avança silenciosamente, pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) seguem aguardando por laudos que demoram semanas — e, em muitos casos, até meses — para serem liberados em Mato Grosso. Em um cenário onde cada dia conta, o tempo perdido entre a biópsia, o diagnóstico e o tratamento pode significar a diferença entre a cura e a morte. A solução? Já existe e depende apenas de vontade política e boa gestão para o poder público – Estado e Municípios – realizar parcerias com laboratórios particulares com custos totalmente viáveis.
A Lei nº 13.896, de outubro de 2019, garante aos pacientes do SUS com suspeita de câncer o direito à realização de biópsia no prazo máximo de 30 dias a partir da solicitação médica. No entanto, embora a coleta muitas vezes seja feita dentro do prazo, os laudos demoram muito além do razoável. É óbvio que apenas fazer a biópsia rapidamente não adianta. O tempo perdido com a longa espera do resultado pode atrasar muito o tratamento e levar o paciente à morte.
Enquanto aguardam pelo resultado de um exame que pode definir o rumo de suas vidas, os pacientes vivem dias angustiantes. O medo do desconhecido, a incerteza quanto ao futuro e a impotência diante da espera prolongada afetam não só o doente, mas também seus familiares. Cada dia de atraso gera sofrimento emocional, ansiedade, insônia e, em muitos casos, depressão. A espera se torna um tormento, que consome a energia de quem já está vulnerável física e psicologicamente.
O tempo ideal para liberação de um laudo oncológico é imediato. A rapidez no diagnóstico é crucial para o início precoce do tratamento, com impactos diretos na sobrevida e na qualidade de vida do paciente. No entanto, a realidade da rede pública está muito distante disso. Pacientes têm relatado esperas superiores a 30 dias. Em laboratórios privados, se for feita a técnica de biópsia por congelação, o resultado é imediato. Em outros casos, que correspondem à maioria, os resultados saem em até cinco dias úteis. A disparidade entre a rede pública e privada é gritante e injustificável.
Os fatores que contribuem para esse cenário na saúde pública são muitos: ineficiência, falta de médicos patologistas e, principalmente, critérios de avaliação nas contratações públicas. Para se ter uma ideia de como o assunto é preocupante na região Centro-Oeste, em julho de 2024, o Hospital Universitário de Brasília precisou recorrer a outros hospitais federais por ter mais de 1.000 exames de câncer represados, com laudos atrasando entre 60 e 90 dias. A justificativa: falta de profissionais.
Em Campo Grande (MS), a situação também chegou a ser alarmante. Em fevereiro de 2025, 741 pacientes aguardavam exames de cintilografia, essenciais para detectar doenças como o câncer. O Ministério Público instaurou inquérito para investigar o caso.
Diante disso, é urgente que o poder público de Mato Grosso adote critérios técnicos para a contratação de serviços de diagnóstico. O tempo de liberação do laudo deveria ser considerado na contratação dos laboratórios, sejam públicos ou privados. O poder público deve buscar alternativas mais eficientes para resolver esse problema da demora da entrega de laudos de câncer. Uma das soluções mais viáveis a curto prazo é a formalização de parcerias com laboratórios particulares. O que importa é a eficiência na entrega do resultado. Não se pode ignorar a importância do diagnóstico rápido na vida das pessoas.
Além de parcerias, é essencial que os órgãos de controle, como o Ministério Público, fiscalizem ativamente o tempo de entrega dos laudos de câncer em laboratórios e hospitais que têm contrato com o poder público. A população não pode ficar à mercê do problema estrutural da saúde pública quando há alternativas perfeitamente viáveis.
O poder público precisa agir com responsabilidade e senso de urgência. A detecção precoce do câncer salva vidas — mas isso só é possível com agilidade, gestão eficiente, políticas públicas voltadas para contratações adequadas e priorização da dignidade humana. Não é apenas o corpo que adoece quando o diagnóstico atrasa. É a alma do paciente, é a esperança da família e é o tempo que escorre pelas mãos. A demora em um laudo de câncer pode custar a chance de cura, mas também destrói, dia após dia, a estabilidade emocional de quem espera por um fio de esperança. A solução não é apenas técnica. Ela é também humana, urgente e está ao alcance do poder público. *Arlindo Aburad é dentista, doutor em Patologia Bucal pela USP *Carlos Aburad é médico patologista
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DÉBORA PINHO DE ALENCAR LIMA
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