Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, há 81 milhões de solteiros e 63 milhões de casados no Brasil. Até o século passado, casar-se era o único destino aceitável. Tanto que mulheres que não conseguiam se casar eram pejorativamente taxadas de “terem ficado para titias”. De acordo com o Censo de 2000 aproximadamente um terço (38,5%) da população eram solteiras e o de casados representava 49,5% da população.
Com o avanço social e do feminismo, não só os homens, mas também as mulheres passaram a ter mais liberdade para decidirem se casar seria o principal foco e objetivo de suas vidas. “Acredito que estar solteiro seja uma escolha consciente da maioria. Passamos a entender que o objeto da vida humana não é apenas construir uma família, que é possível ter uma vida que faça sentido e ser feliz mesmo solteiros. A nossa sociedade entendeu que a é possível encontrar sentido de vida no trabalho, viajando ou no nosso próprio desenvolvimento”, explica a psicóloga Bárbara Couto, especialista em Relacionamentos.
O jornalista Paulo Novais, de 35 anos, está solteiro por opção. Ele, que não tem filhos, diz amar a vida de solteiro, a liberdade de fazer o que quiser na hora que quiser. “Sou uma pessoa super bem resolvida e entendo que ser feliz independe de um relacionamento amoroso. Sentir-se só é algo tão subjetivo. Até porque podemos sentir-nos sozinhos sentados à mesa e estando rodeado de pessoas. E diga-se de passagem o que se tornou comum, pessoas sentadas à mesa cada uma isolada no seu smartphone sem a menor interação com quem está ao seu lado e ou sua frente. Quantos casais em que um dos parceiros não se queixa de se sentir só? Entendo que para se dar ao outro é necessário aprender primeiro a conviver consigo mesmo e isso só se faz estando só, se conhecendo”, relata Paulo.
A psicóloga Bárbara Couto concorda com Paulo que, quando se está solteiro, é um bom momento para se descobrir e se autoconhecer. Quando não se tem outra pessoa como foco e para dividir a vida, passa-se a buscar essa vida em si mesmo. “O autoconhecimento vai surgir nessa reflexão da solteirice, entendendo melhor as próprias necessidades, desejos e limites. Quando se tem esse conhecimento, a pessoa aprende sobre seu valor, o que merece e o que se espera. Aprende a preencher as próprias necessidades, sem precisar de alguém para tampar buracos emocionais”, explica Bárbara.
Solitude ou solidão?
Existem duas formas de se sentir sozinhos: a solitude e a solidão. Na solitude, a pessoa entende que que estar sozinho pode ser uma experiência positiva, quando se sente completa na própria companhia. “Estar na solitude é entender que somos nós mesmos os responsáveis por nos sentirmos bem. Já a solidão é experimentada quando se procura a felicidade em outra pessoa, quando se sente desconfortável por não estar conectada com ninguém ou sozinho”, explica Bárbara.
A jornalista e assessora de imprensa, Deivianne Jhasper, se separou em abril deste ano. Com duas filhas, de oito anos e um ano e quatro meses, Deivianne não abre mão de seus momentos, quando as crianças vão para casa do pai e da avó, uma vez por semana. Ela aproveita para tomar um vinho, assistir a um filme, sair com amigos, ter um tempo para ela fazer coisas que lhe satisfaçam. “Nesses momentos, eu reflito sobre minha vida, penso mais em mim ou saio com amigos. Precisamos também ter autoestima elevada, fazer planos para a vida e, consequentemente, para a família. Quando estamos bem conosco, aproveitando o melhor da vida, com saúde emocional em dia, há muitos benefícios para a educação dos filhos, levando de forma mais leve, com menos cobranças também”, disse a jornalista
Antes só que mal acompanhado
Já dizia o velho ditado “Antes só que mal acompanhado”. Há pesquisas que demonstram que quando se está em um relacionamento saudável, há melhoras na saúde emocional, mas essa não é a realidade de todos. “Quando se vive uma relação abusiva, tóxica, a pessoa fica constantemente em estado de alerta e corre risco de desenvolver estresse, ansiedade, depressão e outros transtornos. Nesse sentido, quando se está solteiro é muito mais fácil priorizar a saúde mental, porque estando mal acompanhado, esse companheiro simplesmente não vai deixar a pessoa olhar para as próprias necessidades”, acredita a psicóloga.
Para Bárbara, as mudanças sociais ao longo do tempo têm um papel bastante importante no modo como as pessoas veem o estar solteiro e o casamento. “Hoje, há mais aceitação de diferentes estilos de vida, diferentes tipos de família, valorizando o ser humano do jeito que ele é, não o diminuindo pelo seu estado civil. O casamento deixou de ser uma urgência e não determina mais o valor das pessoas. Pode-se ter a liberdade de escolher o que é melhor para a vida, seja seguir solteiro, casar ou adotar outros tipos de relacionamento que faz sentido para cada um. E é isso o mais importante”, finaliza Bárbara.
A psicóloga Bárbara Couto
Bárbara Couto é Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB) e tem Mestrado em Psicologia Clínica e Saúde pela – Universidad Europea del Atlantico (UNIAtlântico), da Espanha.
Ela também tem Especializações em Terapia Cognitivo Comportamental e Neurociências e em Comportamento, ambas pela PUC-RS e em Neuropsicologia Clínica, pela Capacitar.
Bárbara Couto escreveu dois livros, editados pela Drago Editorial, em versões impressa e e-book. O primeiro “Permita-se”, sobre relacionamentos abusivos e libertação emocional. E o segundo “Aceita-se”, sobre tabus e necessidade da autoaceitação para sobreviver em uma sociedade que tem dificuldade em aceitar.
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CHRISTIANE PEREIRA COELHO
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