* Syomara Cristina Szmidziuk
Entre 2000 e 2023, a população brasileira com mais de 60 anos mais que dobrou, saltando de 15,2 milhões para 33 milhões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para 2070, a projeção é de que os idosos representem 37,8% da população, ou seja, mais de 75 milhões de pessoas.
Por isso, com a aceleração do envelhecimento populacional, garantir autonomia na velhice vai além do bem-estar individual. Trata-se de uma estratégia essencial para a saúde pública, a sustentabilidade econômica e o respeito à dignidade humana. O envelhecimento do corpo é natural, mas se torna um desafio em uma sociedade que ainda trata a velhice como uma falha e não como uma conquista biológica e social.
Assim, a prevenção é uma das ferramentas mais potentes para garantir autonomia. A terapia ocupacional oferece caminhos concretos para um envelhecimento saudável e ativo. Com práticas que estimulam a cognição, organizam rotinas, adaptam ambientes e fortalecem habilidades motoras, a TO reengaja o idoso em sua própria vida. Cada indivíduo que preserva sua autossuficiência representa menor dependência de cuidados, menos pressão sobre outras áreas do sistema de saúde.
De acorco com dados do Ministério da Saúde e do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), cerca de 70% dos idosos brasileiros dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto apenas 0,7% dos médicos são especializados em geriatria.. A combinação entre escassez de especialistas, infraestrutura defasada e dificuldade de acesso a exames e consultas transforma o envelhecimento em um período de risco, e não de realização.
Recurso estratégico subaproveitado
Mas mesmo com tantos benefícios, a terapia ocupacional segue subaproveitada nas políticas públicas. Poucos municípios contam com terapeutas ocupacionais na atenção primária ou nos centros de reabilitação. Isso limita o acesso a uma abordagem que pode prevenir internações, reduzir o uso de medicamentos e adiar – ou evitar – o encaminhamento para instituições de longa permanência.
Ampliar a presença da TO no SUS, o acesso a esses especialistas na rede privada e conscientizar sobre seus benefícios, são passos inteligentes e urgentes, pois reduzem custos e fortalecem a qualidade de vida na velhice.
Além disso, é preciso desconstruir ideias ultrapassadas e etaristas. Pessoas com mais de 60 anos continuam a aprender, trabalhar, se adaptar à tecnologia e participar da vida comunitária. Falta visibilidade, estímulo e oportunidade. A terapia ocupacional atua justamente nesse ponto e devolve protagonismo com recursos personalizados e acessíveis.
Famílias sobrecarregadas, redes frágeis
Na ausência de suporte público e autonomia individual, o cuidado recai quase sempre sobre a família, especialmente sobre mulheres. Carreiras interrompidas, acúmulo de tarefas e esgotamento emocional são parte da realidade de muitos lares. Quando um idoso recupera ou mantém sua autonomia, esse cenário se transforma.
Garantir independência na velhice é uma forma de honrar histórias de vida e proteger as futuras gerações. O cuidado no Brasil precisa ser mais estratégico, humano e compartilhado. E tudo começa ao reconhecer que envelhecer com autonomia não pode ser luxo. Afinal, estamos falando de um direito coletivo.
* Syomara Cristina Szmidziuk – atua há 34 anos como terapeuta ocupacional e tem experiência no tratamento em reabilitação dos membros superiores em pacientes com lesões neuromotoras. Faz atendimentos com terapia infantil e juvenil, adultos e terceira idade. Desenvolve trabalhos com os métodos Bobath, Baby Course Reabilitação Neurocognitiva Perfetti, Reabilitação de Membro Superior- Terapia da Mão, Terapia Contenção Induzida (TCI) e Imagética Motora entre outros.
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RAFAELA TAVARES KAWASAKI
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