Os avanços no controle e tratamento do câncer de mama, sob a perspectiva de prevenção, detecção precoce e qualidade de vida constituem temas de alta relevância nos debates apresentados pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) nos principais eventos de saúde e oncologia do País. Neste contexto, o mastologista Carlos Ruiz, membro da SBM, destaca a necessidade de compartilhar atualizações sobre o mais incidente tipo de câncer entre as mulheres brasileiras com representantes dos setores público e privado, empreendedores e também a influenciadores digitais. “No Brasil, em se tratando de câncer de mama, as coisas parecem não sair do lugar. No entanto, a partir de uma abordagem multitemática constatamos que existem conquistas e inúmeras perspectivas que precisam chegar ao conhecimento de todos”, afirma.
Em congressos e eventos de grande visibilidade nacional e internacional, a SBM agrega contribuições sobre temas que vêm merecendo não apenas estudos, mas aplicações efetivas à sobrevida de pacientes com câncer de mama. Nutrição, atividade física e mudanças de estilo de vida são algumas destas abordagens. O acesso à medicina de precisão, assim como as barreiras e oportunidades para ampliar a prevenção, o rastreamento e o tratamento da doença no Brasil também são algumas atualizações compartilhadas pela entidade.
Como membro da SBM e mastologista no HC FMUSP/ICESP e do Centro de Oncologia Hospital Alemão, Carlos Ruiz ressalta a importância da informação sobre uma doença estimada em 74 mil novos casos até 2025, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Segundo o especialista, o câncer de mama é uma doença que depende de informações corretas e educação da população para uma prevenção efetiva.
Barreiras e diferenças
Os obstáculos para acesso a diagnóstico são uma realidade no Brasil e resultam em uma cobertura mamográfica inadequada. De acordo com a SBM, embora o número de aparelhos de mamografia para atender a população-alvo seja suficiente, o rastreamento não passa de 30%. Com efeito, os casos de câncer de mama em estágio avançado são maiores na rede pública em comparação com a saúde suplementar, que inclui os planos de saúde.
Desde a biópsia até o primeiro tratamento, observam-se diferenças entre o SUS e a saúde suplementar. Em até 30 dias, os atendimentos representaram, de acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia, 21,1% no SUS e 45,4% no sistema privado. Entre 30 e 60 dias, o SUS registra 34%; a saúde suplementar, 40%. Acima de 60 dias, foram 44,9% no SUS e 14,6% no sistema privado. Neste sentido, a SBM considera fundamental a aplicação da Lei nº 12.732 de 2012, que determina o início do tratamento no prazo máximo de dois meses.
Testagem genética
Entre discussões relevantes que envolveram SBM, universidades e outras entidades com atuações importantes, e resultaram em documentos encaminhados ao Ministério da Saúde para implementação de procedimentos e serviços em todo o Brasil, está a estruturação de testagem genética para detecção de mutações patogênicas e provavelmente patogênicas para pacientes com câncer de mama e ovário e seus familiares no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde).
Entre os fatores aumentados de risco, especialistas destacam a mutação do gene BRCA. De acordo com a SMB, esta alteração genética representa até 80% de possibilidade de desenvolvimento de câncer de mama e de 40% para o de ovário.
O exame para Detecção de Mutação Genética dos Genes BRCA1 e BRCA2, custeado pelo SUS, destaca a mastologista Rosemar Rahal, membro da diretoria da SBM, é um meio eficiente para identificar a mutação e realizar medidas profiláticas que podem salvar milhares de mulheres. “Embora exista legislação que permite a realização do teste em cinco Estados brasileiros, incluindo Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito Federal e Amazonas, somente Goiás, de fato, implementou o exame.
A mastologista da SBM participou ativamente para que a partir da assinatura de um convênio do governo estadual, em outubro de 2023, com a Universidade Federal de Goiás (UFG), o painel genético para câncer de mama herdado fosse realizado pelo Centro de Genética Humana do Instituto de Ciências Biológicas da mesma universidade. “Este é um estímulo para que o Brasil, como um todo, disponibilize o teste”, afirma.
Nutrição e estilo de vida
Formado em nutrição e influenciador digital, Daniel Cady tem milhares de seguidores e inscritos em seus canais. Sobre a importância da alimentação e da atividade física no combate ao câncer de mama, o nutricionista destaca que a prevenção e o tratamento começam na cozinha e terminam na academia. Segundo Cady, “quem não tem tempo de cuidar da saúde, acaba encontrando tempo para cuidar da doença”.
O mastologista Daniel Buttros, do Departamento de Políticas Públicas da SBM, faz coro à afirmação de Cady, especialmente no que diz respeito à prática de exercícios físicos regulares. “Se pudéssemos colocar a atividade física dentro de uma pílula, este seria o melhor remédio que a sociedade poderia receber”, afirma.
De acordo com o especialista, o exercício diário e disciplinado contribui para reduzir a inflamação do organismo, mitigando a obesidade, as doenças cardiovasculares e também oncológicas.
A importância da atividade física no prognóstico do câncer de mama é descrita em respeitados estudos científicos. Uma das pesquisas mais recentes, publicada no Journal of Clinical Oncology, revela que em pacientes com câncer de mama triplo-negativo, agressivo e de rápida evolução, a taxa de sobrevivência livre de recorrência a distância (DRFS) foi de 86% para praticantes de exercícios semanais por menos 90 minutos e de 91,6% para as mulheres que se dedicaram a um período igual ou maior a 90 minutos por semana. Em pacientes HER2-positivas, a DRFS foi de 90% em menos de 90 minutos, e 96% em mais de 90 minutos semanais.
De forma generalizada, o tempo de atividade física definida para mulheres com câncer de mama equivale a cerca de 75 minutos por semana. A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda entre 150 e 300 minutos de exercício moderado ou 75 a 150 minutos para atividade intensa por semana.
“A atividade física pós-tratamento de câncer de mama não é só para qualidade de vida. É tratamento oncológico”, afirma Daniel Buttros. De acordo com o especialista, o exercício realizado de forma regular “é uma ferramenta crucial na redução da mortalidade e recorrência da doença”.
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MAIKO DA CUNHA MAGALHAES
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