O Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso de uma nova variante da Covid-19 no Brasil. Conhecida popularmente como Éris, a EG.5 é uma subvariante da Ômicron e foi registrada em ao menos 51 países, de acordo com a Organização Mundial da Saúde(OMS). No país, a doença foi identificada em mulher de 71 anos, no estado de São Paulo. De acordo com a pasta, ela apresentou apenas sintomas leves e está com o quadro vacinal completo.
A infectologista do Centro Especializado em Doenças Infecciosas do Distrito Federal (CEDIN-DF) Joana D’arc Gonçalves da Silva diz que essa nova variante já circula um certo tempo no mundo. “No Brasil, a gente tem um aumento de algumas variantes que vai crescendo de forma silenciosa, porque a gente não tem uma testagem muito eficaz. E a análise genômica demora um pouco no Brasil. Ela também observa que essa variante foi classificada como de baixo risco porque não apresenta mutações no padrão de gravidade da doença. “Não teve mais hospitalizações ou maior mortalidade com relação a ela”, aponta.
Para ela, é necessário monitorar a evolução. “Os órgãos responsáveis, os centros de vigilância, eles devem ficar atentos para fazer a identificação dos casos e o monitoramento, seguir aqueles pacientes que foram diagnosticados com essa nova variante, para a gente ver o comportamento do vírus na nossa população”, avalia.
O médico infectologista Hemerson Luz destaca: “A variante EG.5 é considerada de interesse pela Organização Mundial de Saúde porque apresenta uma maior transmissibilidade e vem aumentando o número de casos pelo mundo”. O especialista acrescenta que a maior preocupação é com o atendimento nos hospitais. “Temos que ressaltar que esses casos não são mais graves, mas podem aumentar a demanda pelos serviços de saúde”.
Cautela e autocuidado
Na opinião de Joana D’arc, o momento ainda é de cautela e autocuidado. De acordo com a infectologista, mesmo com todos os cuidados necessários para evitar a propagação da covid-19 — como lavar as mãos com água e sabão ou usar álcool 70%, evitar tocar olhos, nariz e boca com as mãos não higienizadas ou manter uma distância mínima de cerca de um metro de qualquer pessoa tossindo ou espirrando —, a vacina ainda é a maneira mais eficaz de evitar casos graves da doença.
“O que a gente tem de principal prevenção continua sendo a vacina. A bivalente, por exemplo, a gente tem uma cobertura muito baixa, mesmo a população-alvo não atingiu a meta esperada. Então, a principal recomendação é que a gente siga esse calendário e que se faça o reforço, porque a bivalente cobre, evita a hospitalização e complicação com relação a essas variantes — e a gente está tendo um prejuízo por causa dessa baixa cobertura”, recomenda.
O médico Hemerson Luz reconhece que muitas pessoas ainda se preocupam com a covid-19, mas ele explica: “Aquele cenário do início da pandemia que apresentava, muitas vezes, o colapso do serviço de saúde em muitos locais, provavelmente não ocorrerá novamente”. Para ele, o mais importante é proteger as pessoas mais vulneráveis.
“É o momento em que se deve proteger as pessoas que fazem parte dos grupos de risco, como aqueles que têm mais de 65 anos, com comorbidades, doenças crônicas, como problemas pulmonares, problemas de imunidade ou quem esteja fazendo tratamento, que o sistema imunológico acaba perdendo um pouco da sua competência”, relata.
Para a infectologista do Centro Especializado em Doenças Infecciosas do Distrito Federal (CEDIN-DF), Joana D’arc da Silva, as pessoas não precisam ter medo, apenas atenção. “Você vai para um local, um ambiente fechado e que tem risco de ter infecção e baixa ventilação, então use a máscara. A outra coisa é testar. Você tem sintoma respiratório? Vamos testar pra você saber se você tá infectado e evitar essa propagação do vírus e, claro, vacinar”, orienta.
O infectologista Hermerson Luz diz que é importante ficar atento aos sinais de uma possível infecção. “Caso alguém tenha sintomas gripais, sintomas respiratórios como nariz entupido, tosse, coriza e febre deve se isolar, procurar atendimento médico o quanto antes para fazer o diagnóstico e utilizar a máscara, justamente para diminuir a possibilidade da transmissão do coronavírus”, alerta.
Manter o esquema vacinal atualizado
Segundo o especialista, apesar das mudanças estruturais do coronavírus na sua proteína Spike, que seria a parte do vírus que se liga com a célula do hospedeiro, ela teve origem na Ômicron. “Por isso, a vacina bivalente deve conferir algum grau de proteção, por isso é muito importante manter o esquema vacinal atualizado”, salienta.
De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 16 milhões de pessoas receberam a dose bivalente da vacina contra a Covid-19. O imunizante é ofertado a todos os brasileiros maiores de 18 anos que tenham completado o esquema primário da vacinação, com as duas doses ou a dose única.
Manter hábitos de higiene ajudam na prevenção
A médica Joana D’arc da Silva lamenta que muitas pessoas já se esqueceram de alguns cuidados básicos. “A gente tinha com frequência o álcool gel disponível em diferentes locais, hoje em dia já está mais raro encontrar isso, as pessoas já estão deixando o hábito de higienizar as mãos, já estão esquecendo alguns cuidados básicos.”
E ela acrescenta: “O reforço é para a gente prestar atenção nos nossos hábitos, mas não é de pânico, é de responsabilidade e o próprio governo também com as medidas, ofertando a testagem para as pessoas que precisam e também disponibilizando os insumos para que as pessoas possam fazer a vacina bivalente e atualizar os outros calendários de vacinas para outros vírus como a gripe, para não ter aí uma superposição de doenças”, pontua.
A infectologista do CEDIN-DF acredita que é importante que todos avaliem os riscos. “Cada indivíduo vai ver se está imunizado, se fez todo o esquema vacinal, ou se tem alguma doença imunossupressora, se tem risco de complicação. Então eu diria que é o momento da gente prestar atenção nos nossos hábitos e nos nossos sintomas. Se apresentar algum sintoma, é melhor não ir para festividades, para locais de alta circulação”, lembra.
O Ministério da Saúde informou que segue monitorando permanentemente o cenário epidemiológico da doença e reforça que, apesar da nova variante, a situação no país permanece estável. A Pasta está atenta às informações sobre novas subvariantes e mantém contato permanente com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o cenário internacional. Além disso, o MS ressalta que está disponível em toda a rede do SUS, gratuitamente, o antiviral nirmatrelvir/ritonavir para ser utilizado no tratamento da infecção pelo vírus logo que os sintomas aparecerem e houver confirmação de teste positivo.