Uma pesquisa recente, publicada no Journal of Oral Rehabilitation (2024), revelou uma associação preocupante: mulheres no pós-parto com má qualidade de sono têm até três vezes mais chances de desenvolver sintomas de disfunção temporomandibular (DTM) — condição que pode causar dores intensas na mandíbula, dificuldade para mastigar, estalos ao abrir a boca, pressão na face e até zumbido.
A articulação temporomandibular (ATM), responsável por funções essenciais como falar, mastigar e bocejar, pode ser diretamente impactada pelas transformações físicas e emocionais da maternidade — especialmente no puerpério, período de intensas adaptações hormonais, privação de sono e sobrecarga emocional.
“Ainda não está completamente claro se a gestação agrava ou protege contra as disfunções temporomandibulares. O que a ciência já demonstra com consistência é que o período pós-parto é um terreno fértil para o desenvolvimento de DTM, devido à combinação de estresse, cansaço extremo e alterações hormonais”, explica a cirurgiã-dentista Simone Carrara, referência na área e redatora do primeiro consenso brasileiro sobre DTM. “Trata-se de um tema negligenciado na saúde da mulher, que precisa urgentemente ganhar espaço nos consultórios e na sociedade.”
Outro fator que acende o alerta entre os especialistas é o bruxismo em vigília, caracterizado pelo apertamento involuntário dos dentes durante o dia — muitas vezes relacionado ao estado constante de alerta e tensão que a maternidade impõe. Já o bruxismo do sono, que tende a reduzir durante a gravidez, geralmente retorna ou até se intensifica após o parto.
“O bruxismo é multifatorial, mas, no contexto do puerpério, a ansiedade, a fadiga e o estresse emocional são gatilhos muito claros”, afirma o doutor em DTM e Dor Orofacial, Bruno Furquim.“Além disso, o cérebro de uma mãe em alerta permanente processa a dor de forma distinta. Por isso, o cuidado deve ser interdisciplinar, envolvendo odontologia, psicologia e apoio emocional, com escuta ativa, acolhimento e zero julgamento.”
A saúde mental da mulher também influencia diretamente a forma como o corpo lida com a dor. Um estudo recente publicado no Journal of Psychosomatic Research (2024) apontou que gestantes com sintomas depressivos apresentaram maior sensibilidade à dor facial e uma tendência acentuada à somatização — ou seja, a conversão de tensões emocionais em sintomas físicos.
Atendimento humanizado
Diante dessa realidade, clínicas especializadas começam a oferecer protocolos exclusivos para mães no puerpério, com foco na reabilitação da ATM, manejo do bruxismo e apoio psicológico coordenado. O objetivo é oferecer um cuidado mais completo, empático e eficaz, considerando a vulnerabilidade física e emocional desse período.
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WALQUENE SOUSA SILVA
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