Você já teve a sensação de que uma criança está te desobedecendo de propósito, quando na verdade ela não entendeu o que foi dito? Esse pode ser um sinal do TPAC — Transtorno do Processamento Auditivo Central, uma condição ainda pouco conhecida, mas que impacta diretamente na aprendizagem. A neuropsicopedagoga Cláudia Villela conheceu o TPAC na prática, como mãe. Ao perceber que seu filho era inteligente, focado e capaz, mas apresentava dificuldades em responder comandos simples, ela decidiu investigar. O resultado foi transformador: não apenas para ele, que se tornou um profissional bem-sucedido, mas para muitas outras crianças que hoje ela acompanha em consultório. A partir daí, ela se especializou cada vez mais no tema e passou a atender outras pessoas com o mesmo problema.
Cláudia explica que diferente da perda auditiva, o TPAC não afeta a capacidade de ouvir sons, mas sim de interpretá-los corretamente. A criança escuta, mas não consegue processar adequadamente o que foi dito. “O TPAC é a falha na habilidade de processar o que foi ouvido. A criança parece teimosa ou desatenta, mas na verdade não compreende totalmente a informação”, explica a profissional.
O diagnóstico é feito por meio de um exame específico, solicitado por um médico após observações feitas por professores, terapeutas, pedagogas, neuropsicopedagogas e afins, segundo Cláudia Villela. “Não há idade exata para detectar o transtorno — o mais importante é prestar atenção aos sinais, como dificuldade em seguir instruções verbais longas; compreensão parcial ou distorcida de comandos simples; necessidade de repetir várias vezes até que entenda, entre outros”, alerta ela.
É comum confundir TPAC com TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. No entanto, são condições distintas. A neuropsicopedagoga relata que o TDAH faz várias coisas ao mesmo tempo e não conclui. Já o TPAC consegue fazer, mas precisa que a informação seja bem direcionada e recebida de forma clara.
O papel da escola é fundamental no apoio ao aluno com TPAC. Segundo Cláudia, basta adaptar a comunicação. “Avise os professores e oriente que, ao falar com a criança, façam isso de frente, na altura dela, chamando sua atenção para a fala”, orienta. Na sala de aula, a recomendação é sentar o aluno longe de distrações, de preferência no centro da sala, próximo ao professor.
O tratamento envolve principalmente terapia com neuropsicopedagogo ou psicopedagogo especializado. A rotina de exercícios estimula o cérebro a desenvolver rotas alternativas para processar melhor as informações. “É como o corpo: se você parar de se exercitar, ele regride. O cérebro também precisa de estímulo constante”, destaca a especialista.
Para concluir, Claudia Villela aponta que a detecção precoce faz toda a diferença. A criança passa a se perceber e a buscar estratégias para compreender melhor o que ouve. Tecnologias assistivas que reforçam a atenção e a concentração podem ajudar, mas o acompanhamento terapêutico contínuo é essencial para o avanço, de acordo com ela.
O TPAC não afeta diretamente a vida social da criança. Muitas vezes, ela nem percebe sua dificuldade. A conscientização geralmente vem após a avaliação e o diagnóstico, o que permite um plano de intervenção eficaz. No entanto, o julgamento precoce pode gerar dor e frustração — tanto para a criança quanto para a família. A mensagem final da especialista é clara: “se você desconfia de algo, não minimize. Busque ajuda. O TPAC não define uma criança, mas a forma como lidamos com ele pode transformar o futuro dela.”
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AMANDA MARIA SILVEIRA
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