A oferta de serviços de saúde no país é amplamente diversificada e distribuída de forma heterogênea, com grande concentração de planos de saúde nas regiões mais populosas e economicamente desenvolvidas.
Em janeiro de 2025, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) registrou que 52,2 milhões de brasileiros (24,6% da população do país) são beneficiários de planos médico-hospitalares. Esse número representa uma alta de 2% em relação aos últimos 12 meses.
A 103ª edição da NAB (Nota de Acompanhamento de Beneficiários) revelou que, em janeiro de 2025, o estado de São Paulo registrou 18,3 milhões de vínculos, representando mais de um terço (35,8%) do total de beneficiários do país. Segundo estimativas da última projeção populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população residente no estado de São Paulo em 2025 é de cerca de 46,1 milhões de habitantes. Dessa forma, a taxa de cobertura atingiu 39,8% em janeiro de 2025, isso significa que aproximadamente dois em cada cinco paulistas possuíam um plano de saúde. Nesse período, esse resultado de São Paulo superou a taxa de cobertura nacional (de 24,6%) em 15,2 pontos percentuais.
Já os estados de Rio de Janeiro e Minas Gerais possuem percentuais semelhantes, em torno de 10,83% (5.566.188) e 10,95% (5.805.542), respectivamente. Em seguida aparece o Paraná com 5,94% (3.155.646) do total de beneficiários.
Como adiantado na abertura do artigo, esses números destacam a concentração de planos de saúde nas regiões mais populosas e economicamente desenvolvidas do país, Sul e Sudeste. A correlação entre o número de pessoas com planos de saúde e a disponibilidade de hospitais de Transição de Cuidados no Brasil é um tema de crescente relevância, especialmente diante da violência urbana e das condições crônicas.
Com o aumento do número de beneficiários de planos de saúde (cerca de 2%), há uma crescente demanda por serviços de saúde de alta qualidade, incluindo cuidados de transição. Além disso, o envelhecimento da população brasileira contribui também para agravar esse cenário, uma vez que esse público geralmente exige cuidados prolongados.
O desafio dessa equação é preparar os planos de saúde e os hospitais de transição de cuidados para atender a essa crescente demanda.
A importância dos Cuidados de Transição
Ainda em expansão no país, os hospitais e clínicas de transição de cuidados atuam fortemente para oferecer reabilitação, suporte e cuidados prolongados, que podem evitar internações desnecessárias, contribuindo para a redução de custos a longo prazo.
No entanto, o mapeamento preciso desses estabelecimentos ainda enfrenta desafios devido à ausência de uma padronização na classificação, fator que dificulta a coleta de dados confiáveis sobre o número de leitos e unidades disponíveis. Independente disso, é sabido que existe um vazio assistencial em Transição de Cuidados.
De acordo com o Diagnóstico do Setor de Transição de Cuidados no Brasil, realizado pela Associação Brasileira de Hospitais e Clínicas de Transição (ABRAHCT), no final de março, o Brasil possui 2.573 leitos de Transição de Cuidados. São Paulo lidera o ranking, com 1.338 leitos, seguido pelo Rio de Janeiro (408), Minas Gerais (257), Espírito Santo (101), Bahia (198), Distrito Federal (135), Pernambuco (76) e Paraná (60).
De acordo com o Ministério da Saúde, através da Portaria n°2.809, de 2012, a proporção de leitos de cuidados agudos para hospital geral é de 5,62%.
Em relação aos hospitais privados, segundo o número de habitantes por região, o ideal seria ter 8.041 leitos de transição de cuidados no país. Comparando com o levantamento da ABRAHCT (2.573 leitos), apenas 32% da população com plano de saúde tem acesso à Transição de Cuidados no país. Isso significa que temos um Vazio Assistencial de Transição de Cuidados de 68%.
Mapeamento e crescimento do setor
O mapeamento preciso do número de leitos e unidades de clínicas e hospitais de transição no Brasil ainda é um desafio. Como citamos acima, a falta de padronização na classificação desses serviços dificulta a coleta de dados precisos.
Entendemos que a integração entre planos de saúde e clínicas e hospitais de transição é fundamental para que a continuidade do cuidado seja garantida. A inclusão de serviços de transição nos contratos de planos de saúde pode melhorar a qualidade do atendimento e reduzir custos operacionais, beneficiando tanto os pacientes quanto os gestores do sistema.
Apesar da ausência de uma classificação específica e padronizada para instituições de transição de cuidados no CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde), observam-se registros de estabelecimentos que atuam com cuidados prolongados e programas de reabilitação, os quais podem ser correlacionados a ações de transição terapêutica.
Em capitais com maior oferta hospitalar, a presença desses estabelecimentos tende a ser mais robusta, sugerindo uma rede integrada que favorece o encaminhamento dos pacientes à continuidade do cuidado após a alta hospitalar.
A comparação entre estados e capitais evidencia o vazio assistencial, mostrando que ainda existem desafios relacionados à equidade na distribuição dos recursos. Regiões menos favorecidas podem apresentar carências não apenas no número absoluto de hospitais, mas também na existência de serviços de apoio à transição de cuidados.
Diante desse cenário, é imperativo que tanto os planos de saúde quanto os hospitais e clínicas de transição se adaptem às demandas crescentes. Investimentos em infraestrutura, na padronização dos sistemas de informação e na integração dos serviços são medidas essenciais para ampliar a capacidade de resposta do setor.
*Peer Buergin é CEO da YUNA, instituição especializada em reabilitação e cuidados paliativos.
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ALESSANDRA LANCHOTI SIEGEL
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