A Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO, na sigla em inglês), uma das mais respeitadas organizações médicas internacionais a orientar decisões no tratamento de pacientes com câncer em diversas partes do mundo, passa a recomendar novas diretrizes (guidelines) para cirurgia do linfonodo sentinela em câncer de mama. Com a participação de pesquisadores de renomadas universidades, institutos e centros médicos dos Estados Unidos, do Canadá e da Nigéria, a nova guideline se destaca também pela contribuição da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e pela pluralidade de opiniões na discussão das evidências atuais sobre o tema.
O mastologista Henrique Lima Couto, coordenador do Departamento de Imagem da Mama da SBM e único especialista brasileiro a validar as discussões sobre as diretrizes, estima que 20% das pacientes serão beneficiadas com a recomendação de não realização da cirurgia nos casos em que o procedimento se comprove facultativo.
O consenso sobre a nova guideline da ASCO foi publicado em abril deste ano no Journal of Clinical Oncology. O resultado do trabalho, descrito no artigo “Biópsia de linfonodo sentinela em câncer de mama em estágio inicial: Atualização das diretrizes da ASCO”, reuniu 18 pesquisadores renomados de várias nacionalidades. “A nova diretriz representa um processo árduo de um ano e meio, iniciado em dezembro de 2023, que se encerra agora com esta publicação”, afirma o mastologista Henrique Lima Couto. Nesse período, o painel de especialistas, no qual se inclui o representante da SBM, realizou a revisão sistemática de ensaios clínicos controlados randomizados. “Também foram feitas revisões externas, respondidas mais de 200 perguntas de especialistas renomados, acrescentados dados e recomendações por revisores externos para que o documento se apresentasse coeso e robusto em todo o seu teor”, ressalta.
O linfonodo sentinela é o primeiro linfonodo (ou grupo de linfonodos) para onde o câncer tem mais probabilidade de se espalhar a partir do tumor primário. Ele atua como uma espécie de “sentinela”, ou seja, alerta sobre uma possível disseminação do câncer pelo sistema linfático. Por estar intimamente relacionado ao câncer de mama, a recomendação recorrente, antes da publicação da nova diretriz da ASCO, era a retirada dos linfonodos localizados na axila da paciente, diante do diagnóstico de um carcinoma invasivo, por meio de biópsia. “Entre as mulheres submetidas à cirurgia de linfonodo sentinela, 10% evoluem com dor crônica, alteração de sensibilidade, dificuldade de movimentação do ombro ou algum grau de inchaço do braço, o chamado linfedema”, pontua Lima Couto sobre os efeitos colaterais do procedimento.
A nova diretriz para biópsia do linfonodo sentinela traz alterações importantes para pacientes diagnosticadas com câncer de mama. “Agora, os especialistas têm como opção não realizar a biópsia de linfonodo sentinela. A partir da publicação, a ASCO recomenda fortemente que as mulheres com tumores luminais, grau histológico 1-2, que se caracterizam por apresentar receptores hormonais positivos, com menos de dois centímetros, que tenham axila clinicamente negativa, também negativa ao ultrassom, e que serão submetidas a tratamento conservador da mama, não façam a cirurgia da biópsia do linfonodo sentinela”, diz o mastologista.
O grupo beneficiado com a nova recomendação envolve pacientes na pós-menopausa, que tenham idade igual ou superior a 50 anos e sejam submetidas à radioterapia da mama e que irão seguir com hormonioterapia. “Para mulheres com mais de 65 anos, a radioterapia é também opcional, desde que sejam tratadas com hormonioterapia”, reforça.
Para o coordenador do Departamento de Imagem da Mama da SBM, as novas recomendações são um marco histórico. “Pela primeira vez, uma sociedade internacional de peso recomenda abandonar a cirurgia axilar para um grupo específico de mulheres com câncer de mama invasor sem ter que aumentar ou compensar com tratamento radioterápico ou sistêmico adicional”, destaca Henrique Lima Couto. “Trata-se de um avanço da ciência para as pacientes e para a comunidade médica envolvida no tratamento do câncer de mama, e que conta com a participação da Sociedade Brasileira de Mastologia”, conclui.
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MAIKO DA CUNHA MAGALHAES
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