As hepatites virais continuam sendo um problema de saúde pública no Brasil e no mundo. Só em 2022, foram 24.036 casos confirmados. A maior parte dos registros são de hepatite B e C, concentrados nas regiões Sul e Sudeste, enquanto a região Norte apresenta 73,1% dos casos de hepatite D (Delta). Os dados são do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. A campanha “Julho Amarelo” alerta para o perigo das hepatites virais. É o mês de conscientização para reforçar as ações de vigilância, prevenção e controle.
O presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia, Giovanni Faria Silva, diz que é preciso ter atenção porque são doenças silenciosas que podem evoluir para quadros graves. “As hepatites virais são processos inflamatórios decorrentes de infecções por vírus que acometem o fígado. Dentre os vários tipos de vírus, nós temos os mais importantes, os mais frequentes, que são aqueles que têm mais afinidade para o fígado, denominados de hepatrotópicos. São os vírus da hepatite A, o vírus da hepatite B, o vírus da hepatite C e o vírus da hepatite D”, explica.
Segundo o diretor do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi) do Ministério da Saúde, Draurio Barreira, as hepatites virais precisam de mais atenção e cuidados. “Provavelmente será, num futuro muito próximo, se o mundo inteiro não se mobilizar no sentido da eliminação, a doença que mais matará. Porque a gente vem vendo as outras doenças infecciosas que tinham grande letalidade como HIV/AIDS, e as hepatites vêm mantendo esse patamar de mais de 1 milhão de pessoas perdendo suas vidas todos os anos. Então é um conjunto de doenças absolutamente prioritário para o enfrentamento”, alerta.
Conforme o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, a hepatite C foi a que teve maior incidência: 14.124 casos no ano passado. O ranking com as maiores taxas de detecção de hepatite C apresentou 11 capitais com taxas superiores à nacional (de 6,6 casos por 100 mil habitantes): Porto Alegre (47,2 casos por 100 mil habitantes), com a maior taxa entre as 27 capitais, seguida de São Paulo (26,8), Curitiba (18,7), Rio Branco (14,0), Porto Velho (13,5), Goiânia (10,7), Florianópolis (8,3), Salvador (7,8), Manaus (7,5), Boa Vista e Aracaju (7,4).
O médico gastroenterologista associado da Gilead Sciences Brasil, Eric Bassetti, diz que as hepatites virais podem ser evitadas. “A hepatite A e a hepatite B têm vacina, estão disponíveis no SUS. A vacina para hepatite A é extremamente eficaz e da hepatite B é uma vacina muito boa que já está disponível há mais de 30 anos. Ela deve ser tomada em três doses. Pra hepatite C, não existe vacina. A hepatite Delta pode ser prevenida com a vacina da hepatite B, ou seja, tenho uma vacina que pode prevenir duas infecções de hepatite viral, tanto B quanto Delta”, destaca.
Em 2022, a distribuição dos casos acumulados de hepatite B detectados no momento da gestação, segundo faixa etária, escolaridade e raça/cor, mostra que a maioria dessas pessoas tinham idade entre 20 e 29 anos (49,8%), possuíam entre a 5ª e a 8ª série incompleta (20,8%) e eram autodeclaradas pretas ou pardas (46,7%). A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA) do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, diz que o governo vai ampliar e simplificar o diagnóstico e o tratamento de hepatite B no SUS. “Nós temos uma prevalência da doença em homens, as hepatites em geral na raça/cor preto e parda Então, precisamos ampliar esse diagnóstico pra que a gente amplie cada vez mais”, ressalta. A secretária reforça que o SUS disponibiliza, gratuitamente, nas Unidades Básicas de Saúde, testes rápidos para hepatite B e C, em que é possível detectar a doença com uma gota de sangue.
O Brasil assumiu o compromisso de eliminar 14 doenças determinadas socialmente nos próximos sete anos. Em relação às hepatites B e C, a meta estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é diagnosticar 90% das pessoas com hepatites virais, tratar 80% das pessoas diagnosticadas, reduzir em 90% novas infecções e, em 65%, a mortalidade.
Prevenção e tratamento
Não existe tratamento específico para as formas agudas das hepatites virais. O prognóstico é considerado “muito bom para hepatite A e E”, segundo as autoridades de sáude, e a evolução resulta em recuperação completa. Para o presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia, Giovanni Faria Silva, o tratamento é fundamentalmente para evitar que o quadro evolua para uma cirrose hepática. “Uma vez tendo cirrose hepática, o paciente pode necessitar de transplante de fígado e tem uma pré-disposição, um risco elevado de surgir um câncer de fígado. Portanto, é importante que os pacientes que tenham uma infecção crônica sejam avaliados por um especialista para avaliar a gravidade da doença no momento do diagnóstico e de realizar o tratamento”, indica.
Bassetti lembra que um dos problemas das hepatites virais é a ausência de sintomas específicos. “Pessoas que têm um aspecto saudável, que estão bem, que não estão sentindo nada, elas podem ter uma hepatite por diversas causas, inclusive as hepatites virais”, salienta. Acrescenta ainda que as hepatites A e E não precisam de tratamento porque não tornam-se crônicas. Já as hepatites B, C e D (delta), em que pessoa pega a infecção e o vírus não é eliminado espontaneamente pelo organismo, o tratamento será necessário.
Segundo os especialistas, o contágio pode acontecer por condições precárias de saneamento básico e água, de higiene pessoal e dos alimentos (hepatite A e E). Também podem ocorrer por transmissão por contato com sangue, por meio de compartilhamento de objetos como seringas, agulhas e alicates de unha (vírus B, C e D).
Novo protocolo do Ministério da Saúde antecipa medicação e deve expandir o acesso ao tratamento para 100 mil pessoas. O governo estima que essa e outras medidas de combate às hepatites devem levar a eliminação da doença até 2030.